maitan
livro
dos insetos
O CACHORRO
durante toda a vida latia
latia latia latia
o homem
durante toda a vida
não entendia
CAPTURA O INSETO
com a mão aproxima
da boca sussurra
-- como se voa
ESTE TECIDO QUE DANÇA
com o vento que passa
cada vez mais leve
conforme se seca
uma hora escapa
O INSETO PASSA
a vida breve
a voar baixo
qualquer lâmpada
enfraquecida
-- um sol
PARTIR
é um parto
normal
drama
prosa
verso
poemas | 2011/15
livro
dos insetos
verso
ANDO PERDENDO DENTES
no asfalto do caminho
com a sola do silêncio
esmago o céu na boca
nos dentes da memória
canais em tratamento --
enxertos de concreto
em cais de vento e mar
ando perdendo tempo
num suspiro à espera
de um ai que conte o quanto
de dente ainda resta
LASCA
uma isca de sol
fisgou a menina dos olhos
escuros da cor do mar
e puxou o céu
da boca para baixo
o anzol
debateu o tempo
todo até então
uma lâmina de lágrima
afogar na sombra
CHAMAEDOREA
dias recolhendo o sol
estendido nas roupas
amaciadas à máquina
para joelhos diários
nas horas em vão
de varais, madrugadas
quase sempre leves
na grandeza do quarto
lascas e fios de água
umedecendo as quinas
e alguma outra fresta
para frio e mariposas
que dobram desejos
em relógio de pilha
MOEDAS NOS OLHOS
no relógio de pilha
o tempo estala
galopes de cavalo
o futuro continua
escandaloso qual o antigo
trem a vapor
na essência, em nada
mudou e decola
turbinas à explosão
silente, a espera
o sono instala
a gente embarca
ESTÉREO
um festival de luzes
vermelhas nas traseiras
dos carros rangendo
transforma a pista expressa
em pista impressionista
piscando em compasso
buzinas entre eles
das motos alertando
cuidado estou passando
a moça de amarelo
no fone ao meu lado
olha pela janela
RUÍDO
a porta fechando
um gemido de infante
a tirar sangue
depois a mãe rindo
um choro distante
a morte do filho
MUSA
você se tornou
uma parte doente do meu corpo
um dente encravado
um braço fora do alcance
precisei amputar teu olhar do meu roso
afogar o desgosto da língua
amor
meu amor
eu te amo tanto
ALGUNS FAZEM POESIA
outros fazem guerra
outros fazem poesia
alguns fazem guerra